Paradoxos dos consórcios públicos intermunicipais no Brasil: as capacidades estatais e a responsabilidade social nos municípios influenciam suas decisões de cooperação?
##plugins.themes.bootstrap3.article.main##
Resumo
A literatura brasileira sobre cooperação intergovernamental para formular e implementar políticas públicas (aqui referida como “consórcios públicos intermunicipais”) sugere uma falta de qualidade gerencial e de responsabilidade social nesses arranjos. Os estudos, porém, não exploram o contexto de gestão e responsabilização social nos municípios que participam desses consórcios, observando se esses elementos influenciam a decisão dos governos locais de se engajarem na cooperação intergovernamental. A pesquisa aborda essa questão analisando consórcios intermunicipais nas políticas de saúde, educação e saneamento no Brasil. Utiliza um modelo Probit onde existem quatro variáveis independentes: capacidades estaduais (existência de plano e recursos municipais e comando único do setor) e responsabilidade social (conselhos municipais com representantes do governo e da sociedade civil). Quando controlados por outras variáveis demográficas, socioeconômicas, políticas e financeiras, os resultados não fornecem suporte empírico para as hipóteses sobre a influência da gestão local e da responsabilização social na decisão de cooperação dos municípios. O estudo conclui que há um paradoxo quando se espera qualidade gerencial e mais responsabilização social nos consórcios intermunicipais. Ao mesmo tempo, estes elementos não são considerados cruciais nas decisões do município de participar nestes acordos cooperativos.
Referências
Andrew, Simon A. (2009). “Recent Developments in the Study of Interjurisdictional Agreements: An Overview and Assessment”. State and Local Government Review 41, 2, 133–42.
Abrucio, Fernando Luiz; Laczyzsnki, Patrícia (2013). “Desigualdade e Cooperação Federativa: um novo olhar para a discussão dos consórcios”. In: Vicente Trevas e Marcela Cherubine. Consórcios públicos e as agendas do Estado brasileiro. São Paulo, Fundação Perseu Abramo.
Abrucio, Fernando Luiz; Fillipim, Eliane Salete; Dieguez, Rodrigo Chaloub (2013). “Inovação na cooperação intermunicipal no Brasil: a experiência da Federação Catarinense de Municípios (Fecam) na construção de consórcios públicos”. Revista de Administração Pública, 47, 6,1543-568.
Abrucio, Fernando Luiz; Sano, Hironobu; Sydow, Cristina (2010). “Radiografia do associativismo territorial brasileiro: tendências, desafios e impactos sobre as Regiões Metropolitanas”. In Jerone Klink. Governança das metrópoles. São Paulo, Annablume.
Agranoff, Robert (2001). “Managing within the Matrix: Do Collaborative Intergovernmental Relations Exist?” Publius – The Journal of Federalism, 31, 2, 31-56.
Agranoff, Robert; Beryl A. Radin (2014). “Deil Wright’s Overlapping Model of Intergovernmental Relations: The Basis for Contemporary Intergovernmental Relationships.” Publius – The Journal of Federalism 45, 1, 139–59.
Aguiar, Rafael and LIMA, Leite Luciana (2019). Capacidade estatal: definições, dimensões e mensuração. BIB: Revista Brasileira de Informação Bibliográfica em Ciências Sociais, 89, 1-28.
Arretche, Marta Tereza S. (2003). “Financiamento federal e gestão local de políticas sociais: o difícil equilíbrio entre regulação, responsabilidade e autonomia”. Ciências & Saúde Coletiva, 8, 2,331-345.
Bae, Jungah; Feiock, Richard C. (2012). “Managing Multiplexity: Coordinating Multiple Services at a Regional Level”. State and Local Government Review 44, 2, 162–68.
Bel, Germà; Xavier Fageda, Melania Mur (2014). “Does Cooperation Reduce Service Delivery Costs? Evidence from Residential Solid Waste Services.” Journal of Public Administration Research and Theory 24,1, 85–107.
Bel, Germà; Mildred, E. Warner (2016). “Factors Explaining Inter-municipal Cooperation in Service Delivery: A Meta-regression Analysis”. Journal of Economic Policy Reform, 19, 2, 91–115.
Best, Nina (2011). “A experiência do Grande Recife Consórcio de Transporte Metropolitano”. Municípios e Estados: experiências com arranjos cooperativos. Rio de Janeiro, Fundação Konrad Adenauer.
Bresciani, Luís Paulo (2011). “Tradição e transição: o caso do Consórcio Intermunicipal Grande ABC”. Municípios e Estados: experiências com arranjos cooperativos. Rio de Janeiro, Fundação Konrad Adenauer.
Brown, Trevor L.; Potoski, Matthew (2003). “Transaction Costs and Institutional Explanations for Government Service Production Decisions.” Journal of Public Administration Research and Theory, 13, 4, 441–68.
Bryson, John M.; Barbara C. Crosby; Laura Bloomberg (2014). “Public Value Governance: Moving Beyond Traditional Public Administration and the New Public Management.” Public Administration Review, 74, 4, 445–56.
Caldas, Eduardo de Lima; Cherubine, Marcela Belic (2013). “Condições de sustentabilidade dos consórcios intermunicipais”. In: Vicente Trevas e Marcela Cherubine. Consórcios públicos e as agendas do Estado brasileiro. São Paulo, Fundação Perseu Abramo.
Cameron, A. Collin; Trivedi, Pravin. K. (2005). Microeconometrics: methods and applications. Cambridge, Cambridge University Press.
Caixa Econômica Federal (2011). Guia dos Consórcios Públicos - Caderno 2. O papel dos Dirigentes Municipais e Regionais na criação e gestão dos Consórcios Públicos. Brasília, Caixa.
Carreirão, Yan S. (2014). “The Brazilian Party System: a debate with the recent literature”. Revista Brasileira de Ciência Política 14, 255–95.
Coutinho, Frederico de Morais A. (2006). Os Consórcios Públicos como Instrumento Potencializador de Políticas Públicas. Document presented at the 30o Encontro da ANPAD, Salvador, Brazil, September 23 – 27.
Crvacuore, Daniel Alberto and Chacon, Andres (Eds.). (2016). El asociativismo intermunicipal en America Latina. Universidad Tecnológica Metropolitana.
Cruz, Maria do Carmo Meirelles Toledo; Araújo, Fátima Fernandes; Batista, Sinoel (2011). Consórcios numa perspectiva histórico-institucional. Municípios e Estados: experiências com arranjos cooperativos. Rio de Janeiro, Fundação Konrad Adenauer.
Dieguez, Rodrigo Chaloub (2011). “Consórcios Intermunicipais em foco: debate conceitual e construção de quadro metodológico para análise política e institucional”. Cadernos de Desenvolvimento, 6, 9, 291-319.
Feiock, Richard C. (2007). “Rational Choice and Regional Governance”. Journal of Urban Affairs, 29,1, 47–63.
Feiock, R. C., Krause, R. M., & Hawkins, C. V. (2017). The impact of administrative structure on the ability of city governments to overcome functional collective action dilemmas: a climate and energy perspective. Journal of Public Administration Reserarch and Theory, 27, 4, 615-28.
Ferracini, Kelly R. (2013). “Desafios do consórcio intermunicipal do ABC: de articulador para executor de políticas públicas de interesse comum?” Em Revista Brasileira de Planejamento e Desenvolvimento, 2, 1, 47-58.
Frutuoso, Jurandi (2010). “A gestão do Sistema Único de Saúde”. En Romualdo P. O. Oliveira e Wagner Santana. Educação e federalismo no Brasil: combater as desigualdades, garantir a diversidade. Brasilia, UNESCO.
Frug, Gerald E. (2001). City Making: Building Communities Without Building Walls. Princeton, Princeton University Press.
Grin, Eduardo José; Fernandes, Gustavo Andrey Lopes (2022). Federal policy design matters for inter-municipal cooperation? An Analysis of Health and Education Brazilian Public Policies. Public Organization Review, published on line: 15 October.
Grin, Eduardo José (2021). Capacidades políticas locais e a realidade dos consórcios intermunicipais na federação brasileira. In: E. J. Grin; Demarco, D. J., and Abrucio, F. L. (Eds). Capacidades estatais municipais: o universo desconhecido no federalismo brasileiro (pp. 317-365). Editora da UFRGS/CEGOV.
Grin, Eduardo José; Segatto, Catarina Ianni; Abrucio, Fernando Luiz (2016). “El asociativismo intermunicipal en Brasil”. In: Daniel Cravacuore, Andrés Chacon. El asociativismo intermunicipal en America Latina. Santiago de Chile, Universidad Tecnológica Metropolitana.
Grin, Eduardo José; Bergues, Martina; Abrucio, Fernando Luiz (2017). “El estúdio de las relaciones intergubernamentales en Brasil”. In: Alejandro P. A. Miranda, Joel Mendoza Ruiz, Eduardo José Grin, Roberto M. Espinosa. Federalismo y relaciones intergubernamentales em México y Brasil, Ciudad de México, Editorial Fontamara.
Grin, Eduardo José (2012). “Notas sobre a construção do conceito de capacidades estatais”. Revista Teoria & Sociedade, 20, 1,148-176.
Grindle, Merille. S. (1996). Challenging the state: Crisis and innovation in Latin America and Africa. Cambridge, Cambridge University Press.
Hawkins, Christopher V. (2017). Political Incentives and Transaction Costs of Collaboration Among US Cities for Economic Development. En Local Government Studies, 43, 5, 752–75.
Hefetz, Amir; Mildred E. Warner; Eran Vigoda-Gadot (2012). “Privatization and Intermunicipal Contracting: The US Local Government Experience 1992– 2007”. Environment and Planning C: Government and Policy, 30, 4, 675–92..
Hulst, J. Rudie; Van Montfort, André (2012). “Institutional Features of Cooperation: Cooperative Arrangements and Their National Contexts”. Public Policy and Administration 27,2,121–44.
Hulst, J. Rudie; Van Montfort, André (2007). Inter-municipal cooperation in Europe. AA Dordrecht, Springer.
Instituto de Pesquisa Econômica e Aplicada (2010). “Cooperação federativa: a formação de consórcios públicos no Brasil”. Brasil em Desenvolvimento: Estado, planejamento e políticas públicas. Brasília, IPEA.
Kübler, Daniel; Michael A. Pagano (2012). “Urban Politics as Multilevel Analysis”. In: John Peter, Karen Mossberger, Susane E. Clarke. The Oxford Handbook of Urban Politics. Oxford, Oxford Handbooks Online.
Laczynski, Patricia; Teixeira, Marco Antônio Carvalho (2011). “Os limites de um consórcio intermunicipal em condições assimétricas de poder: o caso do CINPRA no Maranhão”. Municípios e Estados: experiências com arranjos cooperativos. Rio de Janeiro, Fundação Konrad
Adenauer.
Lackey, Steven Brent; Freshwater, David; Rupasingha, Anil (2002). “Factors Influencing Local Government Cooperation in Rural Areas: Evidence from the Tennessee Valley”, Economic Development Quarterly, 16, 2, 138–54.
Lowery, David (2000). “A Transactions Costs Model of Metropolitan Governance: Allocation Versus Redistribution in Urban America”. Journal of Public Administration Research and Theory, 10,1, 49–78.
Lubell, Mark et al (2002). “Watershed Partnerships and the Emergence of Collective Action Institutions”. American Journal of Political Science, 46,148-163.
Machado, José Ângelo; Andrade, Marta Leone Costa (2014). “Cooperação intergovernamental, consórcios públicos e sistemas de distribuição de custos e benefícios”, Revista de Administração Pública, 48, 3, 695-720.
Meza, O. D., Grin, E. J., Fernandes, A. S., & Abrucio, F. L. (2019). Intermunicipal cooperation in metropolitan regions in Brazil and Mexico: does federalism matter? Urban Affairs Review, 55, 3, 887-922.
Nascimento, Alex Bruno Ferreira Marques et al. (2021). Inter-municipal cooperation based on Institutional Collective Action: the effects of public health consortia in Brazil. Revista de Administração Pública, 55, 6, 1369-1391,
Miller, David Young, Joo Hun Lee (2011). “Making Sense of Metropolitan Regions: A Dimensional Approach to Regional Governance”. Publius: The Journal of Federalism, 41,1, 126–45.
Nelson, Kimberly L.; James H. Svara (2012). “Fostering Innovations in U.S. Municipal Governments”. The American Review of Public Administration, 42, 3, 257-281.
Prates, Ângelo Marcos Queiroz (2010). Os consórcios públicos municipais no Brasil e a experiência européia: alguns apontamentos para o desenvolvimento local. Document presented at the III Congresso CONSAD de Gestão Pública, Brasília, Brazil, March 15 – 17.
Putnam, Robert D. (2006). Comunidade e democracia: A experiência da Itália moderna. Rio de Janeiro, Editora FGV.
Ravanelli, Paula (2010). Consórcios Públicos: os desafios do fortalecimento de mecanismos de cooperação e colaboração entre os entes federados. Document presented at the III Congresso CONSAD de Gestão Pública, Brasília, Brazil, March 15 – 17.
Rodríguez-Oreggia, Eduardo; Rodolfo Tuirán Gutiérrez (2006). “La cooperación intermunicipal en México Barreras e incentivos en la probabilidad de cooperar”. Gestión y Política Pública, 15, 2, 393-409
Rolnik, Raquel; Somekh, Nadia (2000). “Governar as Metrópoles: dilemas da recentralização”. São Paulo em Perspectiva, 14, 4, 83-90.
Silvestre, H. C., Marques, R. C., Dollery, B., & Correia, M. C. (2019). Is cooperation cost reducing? An analysis of public – public partnerships and intermunicipal cooperation in Brazilian local government public – public partnerships and inter-municipal. Local Government Studies, 46, 1, 68-90.
Souza, Patrícia Laczynski (2012). Políticas redistributivas e a redução das desigualdades: a contribuição potencial dos consórcios intermunicipais. Dissertation (PhD in Government and Public Administration). São Paulo School of Business. Fundação Getulio Vargas: São Paulo.
Spink, Peter Kevin (2011). “Cooperação e Governança Interjurisdicional: conceitos em discussão”. Cadernos Adenauer XII, 4, 1-29.
Stoker, Gerry (2009). “Comparative Local Governance”. Rod A. W. Rhodes; Sarah A. Binder; Bert A. Rockman. The Oxford Handbook of Political Institutions. Oxford, Oxford University. Press.
Strelec, Thamara; Fonseca, Francisco (2011). “Alcances e limites da Lei dos Consócios Públicos - um balanço da experiência consorciativa no estado de São Paulo”. Municípios e Estados: experiências com arranjos cooperativos. Rio de Janeiro, Fundação Konrad Adenauer.
Tapia, Jorge. R. B. (2005). “Desenvolvimento local, concentração social e governança: a experiência dos pactos territoriais na Itália”. São Paulo em Perspectiva, 19, 1, 132-139.
Teles, Filipe (2016). Local Governance and Intermunicipal-cooperation. Basingstoke, Palgrave Macmillan.
Trevas, Vicente Carlos Y Plá (2013). “Consórcios Públicos e o Federalismo Brasileiro”. In: Vicente Trevas e Marcela Cherubine. Consórcios públicos e as agendas do Estado brasileiro. São Paulo, Fundação Perseu Abramo.
Vaz, José Carlos (1997). “ Consórcios intermunicipais”. Revista DICAS: Ideias para a Ação, 97, 13-25.
Warner, Mildred E.; Amir Hefetz (2002). “Applying Market Solutions to Public Services: An Assessment of Efficiency, Equity, and Voice.” Urban Affairs Review, 38, 1, 70–89.
Wolman, Hall; McManmon, Robert; Bell, Michael; Brunori, David (2008). Comparing Local Government Autonomy Across States. George Washington Institute of Public Policy, Washington.
Wolman, Harold (2012). “What Cities Do: How Much Does Urban Policy Matter?” John Peter, Karen Mossberger, Susane E. Clarke. The Oxford Handbook of Urban Politics, Oxford, Oxford Handbooks Online.
Data bases
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Pesquisa de Informação Básica Municipal. Retrieved from https://ww2.ibge.gov.br/home/estatistica/economia/perfilmunic/ defaulttab1_perfil.shtm
Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (2013). Atlas do Desenvolvimento do Humano do Brasil. Retrieved from http://atlasbrasil.org.br/2013/.
Secretaria do Tesouro Nacional. Sistema de Informações Contábeis e Fiscais do Setor Público Brasileiro. Retrieved from: https://siconfi.tesouro.gov.br/siconfi/index.jsf; jsessionid=1OGcSxKZ8dMxcJrshXg6yvzu.node1
Tribunal Superior Eleitoral. n.d. Retrieved from: http://www.tse.jus.br/eleicoes/ estatisticas/eleicoes/eleicoes-anteriores/estatisticas-eleitorais-anos-anteriores
Instituto Nacional de Pesquisas e Estudos Educacionais Anísio Teixeira. Retrieved from March 19, 2019. http://ideb.inep.gov.br/resultado/
DATASUS Tecnologia da Informação a Serviço do SUS. Retrieved from http://www2. datasus.gov.br/DATASUS/index.php?area=02